segunda-feira, 9 de março de 2009

Zero Oitocentos

ZERO OITOCENTOS


"A gente liga zero, oitocentos, nove, nove, nove, meia, meia, zero... Chama e uma voz construída responde: “você ligou para blá, blá, blá. Sua ligação é muito importante para nós. Se quiser informações sobre pagamento, parcelamento, ou tarifa, disque dois; para dados sobre sua conta, disque três; para renovar seu cadastro, disque quatro, para informações gerais, disque cinco ou aguarde um dos nossos atendentes.” Aguardamos no fone. Começa a tocar uma musiqueta, uma propaganda dos serviços maravilhosos e de inestimável valor que aquela empresa presta a seus clientes. E novamente a voz: “aguarde na linha, você já será atendido”. E toda gravação novamente. A adrenalina acelera na corrente sanguínea, a língua começa coçar, querendo mandar todos para o pampa que os pariu, alguém atende: “Rose bom dia, em que posso ajudá-lo?” Contamos até dez para não xingar a atendente que não tem nada a ver com isso e para relatar as razões do contato. Quando termina a ‘Rose’ diz, em tom linear: “senhor Fulano, vou passar para o departamento responsável para o procedimento de protocolo”. Novamente: “você ligou para....”. Passou mais de meia hora, nossa agenda atrasada, o saco arrastando, mas se consegue o tal número de protocolo da reclamação. Em quarenta e oito horas tudo deverá estar solucionado. Passam-se as horas e o problema permanece. Voltamos a ligar e outra das várias ‘Roses’ atende e constata que “não existe nenhum protocolo registrado, o senhor terá que fazer novo procedimento”. A “Rose” ouve uma série de desaforos que teus circuitos nervosos, pressionados pela dinâmica globalizada da computação, automatização digital, virtual e escambau, cospem boca afora. Baixamos o fone e vamos direto ao PROCON. A história se repete quase como farsa ou tragédia, nos anais da burocracia.
A mais de dois meses da vigência da lei que fiscaliza e pune falhas nos atendimentos por telefone (call centers), parece que a única punição das empresas responsabilizadas é a perda do cliente, quando este consegue ‘livrar-se’ dos serviços, pois até para devolver qualquer mercadoria que seja a inoperância impera.
O povo está entupido de ofertas, atolado em contas a pagar e vencer, o peito explodindo de angústias existenciais ou não. Tolerância zero para os zero oitocentos que não se enquadram nas regras vigentes. Tolerância zero também para tantas leis eficazes e nada eficientes. Agora é para funcionar."
Denair Guzon
A Geografia se interessa por este tipo de crônica porque antes de se estudar o espaço geográfico,precisa-se reconher cultura e conhecimento do povo que convive nesse espaço geográfico,e essa crônica tem relação com nossa cultura e cotidiano atual. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário